Adoro escrever-vos! 
Escrevo-vos desde que vocês nasceram. 
Primeiro, à mão, num pequeno diário azul, de coração apertado, ao som de bips e mais bips de todas as máquinas a que estavam ligadas, enquanto lutavam pela vida. 
Mais tarde, já no conforto de nossa casa, e rendido à tecnologia, o som da caneta a arranhar o papel, deu lugar ao batuque do teclado. E os bips das máquinas, deram lugar a uma musica relaxante que toca de fundo, enquanto vos construo este diário que vos pretendo deixar. 
Mas hoje, o texto é especial! Tem de o ser! Porque é uma celebração dos vossos primeiros 3 anos. 
Andava há dias à procura de inspiração, mas ela teimava em não chegar.
Sabem filhas, já vos tinha escrito bastante sobre a fé, sobre o acreditar, e sobre sinais. Sinais que podemos encontrar onde menos esperamos! E hoje, esses sinais chegaram até mim, sob a forma de uma enorme “beleza colateral”. 

Dei por mim a pensar no “meu porquê”. Não tenho dúvidas de que o grande “porquê” da minha vida são vocês e a vossa mãe. Mas sabem, não é sobre isso que vos quero escrever. 

Quero escrever sobre 3 grandes dimensões em que o filme me fez reflectir. 3 dimensões, onde percebi que vocês me deram, desde que nasceram, uma enorme lição: Amor, Tempo, Morte. 

Amor – Muito já eu vos escrevi sobre o Amor. Acredito inclusivamente que seja a maior motivação da Humanidade, o que mais nos move. 

Ele aparece sob várias formas, e vocês foram, sem dúvida, a forma mais bonita sob a qual ele me surgiu. E quando olho para trás para perceber quando terá começado, percebo que começou quando voces eram ainda apenas uma ideia, nas mentes da mamã e do papá! Já nesse momento eu vos amava! Mas foi depois de nascerem que esse Amor me transformou. Porque percebi que não era apenas eu que vos amava, também vocês me amavam, da forma mais pura, genuína e desinteressada que pode existir! Percebo-o, todos os dias, no brilho do vosso olhar, e na simplicidade do vosso sorriso.

Filhas, vocês ensinam-me todos os dias o verdadeiro sentido de Amar, e ser Amado!

Tempo – Desde que nasceram que nos trouxeram uma visão e percepção completamente diferente do tempo. Logo eu e a vossa mãe, que tínhamos vidas tão corridas… Sempre com pressa para tudo! Inclusivé para viver a vida! 

Vocês ensinaram-nos a usufruir de todos os momentos, de todos os instantes! Vocês ensinaram-nos porque o presente, se chama “presente”! Vocês ensinaram-nos que um dia pode ser infinito, se o soubermos viver em toda a sua plenitude

Escrevi uma vez, enquanto estavam internadas, e ainda presas à vossa incubadora, que assistir à vossa luta durante todo o internamento se assemelhava a estar sentado num banco de jardim a ver a relva crescer, aproveitando todos os momentos, tentando receber e usufruir de todas as sensações que aquele momento nos transmitia!  O que não vos escrevi nessa altura, era que esse era um dos melhores sentimentos do mundo. E continua a ser, poder ver-vos crescer todos os dias, e acima de tudo, poder crescer convosco!

Filhas, vocês ensinam-me, todos os dias,  o verdadeiro significado de “viver um dia de cada vez”! 


Morte – Engraçado, a morte é a única coisa que todos temos como certa quando nascemos, mas é ao mesmo tempo a que mais tememos. E é irónico como por vezes, o medo da morte, nos impede de viver a vida! 

Mas vocês enfrentaram a morte logo desde o início! Estiveram frente a frente com ela! Desde o vosso primeiro minuto após o nascimento! E fizeram-no com uma enorme coragem, sem medos, sem receios! Mostraram-nos o que verdadeiramente significa ser resiliente, lutador! Mostraram-nos, com a ingenuidade e pureza únicas de uma criança, o quanto queriam aproveitar esta oportunidade, o quanto queriam viver a Vida!  E mostraram-nos como o fazer, e onde ir buscar força e inspiração para o fazer, ao que de mais importante tínhamos, o nosso Amor, e o Tempo que passamos juntos! 

Filhas, vocês ensinam-me, todos os dias, a transformar o medo da Morte, numa vontade imensa de viver a Vida! 

Parabéns minhas filhas! Tenho um orgulho imenso em vós! 

Muito obrigado, por me terem escolhido para vosso Pai!




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