No dia em que as Marias nasceram, não tivemos direito a visitas nem mensagens de felicitações. Tudo era tão irreal. Lembro-me de ter a sensação de estar constantemente “anestesiada”, parecia que estava noutro mundo, não queria encarar a realidade, não queria falar com ninguém nem ouvir ninguém.
Os médicos, enfermeiros e auxiliares que cuidaram de mim naquela noite e depois no dia seguinte foram muito sensíveis com todo o seu cuidado para comigo Senti-me compreendida e amparada por eles, por vezes em coisas tão simples como num olhar, num aperto de mãos. Nunca me esqueço por exemplo, de quando, num dos primeiros dias após o nascimento delas, a enfermeira Joana nos foi dar os diários para podermos escrever para as nossas filhas, e não imaginam o que esse simples gesto fez nos nossos corações; ou quando nos disseram que podia amamentar, mesmo tendo as Marias 25 semanas de gestação e meio kilo de gente (tinha de extrair o leite pela bomba mas depois de 3 meses consegui amamentar naturalmente). Tudo isto foi tão bom de ouvir. E tudo isto fez tanta diferença.
Mas nem sempre ouvimos coisas “boas” ou o mais adequando para a situação que estamos a viver.
Independentemente do grau da prematuridade, ou seja, sejam eles de 24, 28, 32 ou 36 semanas, nenhum pai está pronto para o ser antes do tempo, ou nascer e não poder ter o filho nos braços.
Nem sempre os que nos rodeiam, familiares, amigos, conhecidos conseguem exprimir a sua “solidariedade” da melhor maneira. Na tentativa de desvalorizar a situação dizem alguns comentários, menos apropriados, que muitas vezes nos magoam.
Na maior parte das vezes fazem-no com as melhores intenções, na tentativa de “consolar”.
Mas a verdade é que é preferível o silencio do que dizerem aquilo que não se tem a certeza que vai ajudar.
A maioria dos dias apenas precisávamos de alguém para nos ouvir, ou dar um abraço.
Os pais estão a passar por um momento de tensão emocional é necessário ter sensibilidade nas palavras ditas e jamais se deve minimizar a situação.
Paço a referir alguns comentários que ouvimos e comportamentos que se devem evitar quando o bebé nasce antes do tempo.
 
“Não te preocupes, cá fora cresce” – Este foi o mais ouvido sem dúvida. A realidade é bem diferente, um bebé prematuro tem de enfrentar adversidades que não se resumem só ao seu crescimento, algumas muito complicadas, que podem inclusivamente comprometer o futuro do bebé. O percurso do internamento do bebé é feito de vitórias e derrotas e todos devem ser solidários com os pais nestes momentos.

“Ainda são muito novos podem ter mais filhos” – Isto doía tanto de ouvir, nenhum filho substitui outro, temos de respeitar a dor.

Demonstração de curiosidade exagerada face a um bebé prematuro -Por muita curiosidade que as pessoas possam ter acerca de bebés prematuros, este não é definitivamente o melhor momento para esclarecer essas dúvidas junto dos pais

“Está no melhor lugar onde poderia estar” – A verdade é que o bebé precisa dos cuidados intensivos neonatais, mas o melhor lugar para um filho é sempre o aconchego do lar.

“Devias amamentar” – Se este por si só já é um tema sensível, para uma mãe prematura, ainda o é mais. São imensas as preocupações e angústias que passam pela cabeça de uma mãe prematura nesta fase. E, apesar de o leite materno neste período ser verdadeiramente ouro para o bebé, não podemos nunca criticar ou julgar uma mãe prematura que não o consiga ou decida não o fazer.

No caso de gémeos quando um vai para casa ou outro fica internado, ou um infelizmente morre e o outro sobrevive e dizerem aos pais que devem estar felizes por ter um deles… isto demonstra uma  uma enorme insensibilidade. O coração dos pais encontra-se desfeito.

Comparar bebés prematuros com os bebés de termo –  (isto numa fase já depois do internamento) Há muito desconhecimento dos conceitos de idade real  e idade corrigida. Estas comparações só servem para angustiar os pais, eles já sabem que os seus filhos são pequeninos, não é preciso relembrá-los constantemente.

Não compreender as razões pelas quais não podem visitar o bebé – temos de relembrar que os bebés prematuros são mais susceptíveis a doenças que os bebés de termo, principalmente quando ainda são pequeninos e recém-chegados a casa.

A reacção às fotos ou filmes de um bebé prematuro numa unidade de cuidados intensivos –  Ao invés dos amigos ou familiares demonstrarem estar impressionados com todo o aparato e por vezes com a aparência e tamanho do bebé prematuro, antes seria preferível demonstrarem estar impressionados com a garra e a resiliência destes pequenos grandes guerreiros!!