Depois
de 109 dias de uma viagem cheia de muitos sustos, de muita dor, de muito choro,
de muitas noites sem dormir, de muitos dias de angústia e de muitos medos, mas
também de muito amor, de muita coragem e de muita Fé, estamos os 4 em
casa:):):)

Ao
fim de 109 dias levei as minhas filhas para casa de lágrimas no rosto e de
coração apertado mas feliz, muito feliz. Sonhei tanto com este dia! Imaginei-o todas
as noites quando custava tanto adormecer, quando acordava e sentia um medo e
uma ansiedade por não saber como elas estavam, quando ia no caminho de
casa-hospital e vice versa, este caminho que parecia não ter fim e que durante
muito tempo não conheci outro (acho que até o carro ficou viciado), quando
recebia uma má noticia delas, quando olhava para elas, quando olhava para o meu
marido, quando fechava os olhos… Sempre acreditei, este sonho dava-me forças
para continuar a acreditar e a lutar com elas e por elas. Via-me a mulher mais
feliz do mundo, de mãos dadas com o meu marido, levávamos os ovinhos cheios de
alegria e de orgulho, como tantas e tantas vezes vimos pais com esse brilho no
olhar e alegria no coração; tinha o melhor e maior sorriso do mundo, abraçava
todas as pessoas do serviço que juntamente com as nossas meninas e outros bebes
e todos os super pais que se cruzaram connosco, foram e são uns super heróis! E
chorava… Um choro de alegria, de agradecimento e por, finalmente, o medo dar
lugar à felicidade pura! Dizia ao ouvido das minhas filhas “filhas o nosso
sonho vai tornar-se realidade, hoje vamos para casa!” e elas sorriam como tanta
vez o fizeram quando lhes falava e lhes tocava através da incubadora. Fechávamos
a porta do serviço e não olhávamos para trás mas sim uns para os outros, dava
um beijo ao meu marido e respirava fundo, chegávamos ao carro e ao som de 93 million miles íamos para casa. Durante
o caminho chorava de alegria e aquela sim era a viagem hospital-casa mais
desejada e feliz. Chegávamos a casa (que estava toda arrumadinha para as nossas
princesas) e finalmente colocava as minhas meninas juntas (pois estiveram
sempre separadas durante os 109 dias) e esse sim seria o culminar de um dos
melhores dias da minha vida… E não é que foi mesmo isto que vivi no dia 27 de
Junho de 2014JJJJ
Vale a pena sonhar e acreditar.



Olho
para trás e vejo que não cheguei a viver um terceiro trimestre de gravidez, não
tive um chá de bebe, não tinha a mala da maternidade feita, nem o quarto
pronto, não fiz um curso de preparação para o parto e não tive um parto
tranquilo, não pude conhecer as minhas filhas no dia que nasceram (foi o André
que me apresentou as minhas filhas por fotografia e no dia seguinte
pessoalmente), não tive visitas nem elas, não tive dores pós parto (pois tinha
outras dores maiores), não tive aquela sensação mágica de tanta felicidade que
a maioria das mães refere quando nascem os filhos, mas sim um medo enorme de as
perder (o pior medo de todas as mães, mas apesar desse medo, sempre acreditei
nelas mesmo quando os médicos diziam o contrario). Não pude abraçar as minhas
filhas (só ao fim de 26 dias), não era mãe a tempo inteiro, apenas umas horas
(e isto doía tanto), tocava nelas apenas quando permitiam, cantava para elas
sempre que podia, tirava leite pela bomba numa sala com outras mães à qual
chamava sala de partilha da dor, pois ali éramos um pouco mães de todos. Tive
duas mastites mas mesmo assim continuei a tirar leite (para o bem delas fazia qualquer
coisa). E no fim do dia, regressava a casa, com uma dor horrorosa, uma sensação
de vazio, de medo, de angustia, de não querer estar longe delas. Mas ao mesmo
tempo sabia que tinha de descansar para estar bem perto delas. Chegava a casa
tão triste, sem elas. Olhava para os berços e não as via, olhava para a barriga
e não as sentia, e recordava tudo o que aconteceu novamente, e rezava para
conseguir dormir, tinha a sensação que estava a viver um sonho e que nunca mais
acordava. Tinha pânico que o telefone tocasse, não conseguia ligar para o
serviço (pedia sempre ao André), não queria chorar perto delas mas também não
queria deixa-las quando elas não estavam bem. Mas às vezes bastava olhar para
elas para saber se estavam bem ou não. Tantas vezes me senti a desmaiar, sem
força com vontade de desaparecer. 


Obrigada André por me teres amparado quando
estava a cair. Obrigada Joana pelos lencinhos de papel e pelas tuas palavras
nesses momentos. Queria tanto ser eu a ter aqueles tubos, a respirar pelo
ventilador, a ser picada de hora a hora. Sentia-me tão triste tão impotente, ninguém
nos prepara ou nos ajuda a lidar com o sofrimento dos filhos. Vivi dias deste
sofrimento horroroso
L  mas também vivi dias maravilhosos.

Conheci
as minhas filhas mais cedo, tinham 684gr e outra 741gr (meio kg de gente) ainda
não sabiam respirar, tinham os olhos fechados, orelhas mal definidas, pele
vermelha (nem sei se podemos chamar pele), tinham uma mini fralda (nunca
imaginei que existisse fraldas tão pequeninas), estavam rodeadas de tubos e
eram picadas e aspiradas de hora a hora, mexiam muito os bracinhos e as pernas.
Vi o primeiro olhar das minhas filhas e o primeiro sorriso (e foi a melhor
coisa que vi na vida alem delas), o choro só conheci ao fim de 26 dias quando
tiraram o ventilador. Um xixi, um coco, tudo era uma vitoria, e coisas tão
banais para a maioria dos bebes, para nós eram como ganhar o euromilhoesJ era tudo muito lento
mas tudo mágico, como o meu marido diz: “é como estarmos sentados num
banco do jardim a ver a relva a crescer”, mas apesar de todos os tubos e
de estarem a viver numa caixinha mágica (como eu lhe chamo) estavam rodeadas de
tanto mas tanto amor, e o amor cura tudo e curou as nossas princesas!!!

Como
nos disseram nos primeiros dias é um dia de cada vez, e foi mesmo assim, uns
dias bons outros menos bons, depois novamente bons e novamente outros menos
bons, foi uma montanha russa de emoções durante estes 109 dias. Era mesmo
assim, mas valeu tanto a pena:)

Conheci
tantas pessoas que me tocaram, que vão ficar para sempre no meu coração e a
quem estou eternamente agradecida. A toda a equipa da neonatologia do HSFX que
salvaram as minhas meninas e pelos mimos que me deram sempre, não tenho
palavras para lhes agradecer; a todas as super mães e super pais que lutaram na
mesma dor, às minhas filhas e a todos os bebes que conheci, os que viveram e os
que infelizmente partiram obrigada por tudo o que me ensinaram e por me terem
tornado numa pessoa melhor.



A Deus por me ter feito ver que a fé, a esperança e o Amor são os melhores remédios do mundo, Obrigada por não me teres deixado sem forças. 

À
família e amigos que nem sempre tive tempo para eles, mas que rezaram tanto
pelas minhas princesas. 

Ao
amor da minha vida que fez destes dias menos dolorosos, que partilhou a mesma
dor e que acreditou sempre comigo e me fez sorrir mesmo quando o coração pedia
para chorar. Obrigada André (estou tão orgulhosa de ti).

Por último,
obrigada filhas (que são o melhor de mim e do pai) pela vossa coragem, força,
amor, sorrisos (mesmo quando estavam tão mal), pelo vosso olhar mágico e pelos
vossos gestos que transmitiam tanto e tanto, obrigada por me ensinarem o amor
mais poderoso do mundo:)
Obrigada

Débora 

PS – Acho que me esqueci de muita coisa
mas quando conseguir olhar para trás de uma outra forma, sem tanto medo, sem
tanta angustia, vou escrever a história desta grande viagem a 4. 





27 de Junho de 2014

A querida  Love Lab também partilhou a nossa história “Conheci as minhas filhas mais cedo”. Muito Obrigada por todo o carinho e amizade

10 Comments
  • Té Lima Pires

    Tão piquitinhas 🙂 felicidades 🙂

  • Definitivamente São Dois

    Parabéns! Descobri-vos agora e já estou a seguir! Sou mãe de um casal de gemeos, agora com 28 meses, que nasceram de 33 semanas e estiveram na Neo apenas 2 semanas. Emocionei-me com o vosso relato! Também comecei um blog por eles (www.definitivamentesaodois.blogspot.pt)! Vou falar sobre vocês por lá! Um beijinho! Sara

    • Nós e as Márias

      Sara sigo muito o vosso blog e adorooooo 🙂 Mil beijinhossssssssssssssss

  • Cat Pinto

    Olá sou a Catarina

  • Cat Pinto

    Aconteceu o mesmo mas o final foi pior,perdi os meus filhos .Emocionei me com o teu relato. Beijinhos

  • Cat Pinto

    Aconteceu o mesmo mas o final foi pior,perdi os meus filhos .Emocionei me com o teu relato. Beijinhos

    • Nós e as Márias

      Olá Catarina 🙂

      Muita força. No que eu puder ajudar estou aqui. Beijinhos

  • Ana Filipa Oliveira

    É incrível como o ser humano se supera a ele próprio. Sou mãe de um menino de 10 anos e de uma menina de 5 meses. Nesta última gravidez sempre tive muito medo que ela nascesse prematura, devido às complicações que estava a ter. Graças a Deus que isso não aconteceu! Eu sei que pensamos que "se fosse comigo, eu não tinha coragem, não era capaz…", mas na altura tem de se avançar, não dá para colocar a vida em pausa e com um dedo mudar tudo de lugar… o meu filho, com poucos dias de vida, ficou internado por mais de uma semana… doeu… e doeu ainda mais depois, porque no momento temos que agir, temos que estar presentes… mas quando recordamos parece que a dor recalcada vem ao de cima com uma intensidade inexplicável… gostei muito de ler o teu/ vosso relato, saber que esta história teve um final feliz. Vou seguir o vosso blog. Um abraço fraterno (Que em tudo possamos dar graças a Deus!)

  • Joana Rosa

    Que linda história, que lindo texto, que lindo casal e que linda família. Transparecem amor. Um beijinho enorme aos 4!

  • Ana S

    Olá, também eu sou mamã de gémeas, agora com 8 aninhos, felizmente tive uma gravidez muito tranquila, só às 38 semanas com uma infecção respiratória tive de ser internada e elas tiveram de nascer um pouco mais cedo através de cessariana. A nossa vida foi inundada de amor e carinho, muito trabalho também, eram duas 🙂 mas tudo valeu e vale a pena. Um beijinho e que a vida vos traga muitas alegrias, parabéns às vossas princesas que lutaram porque sabiam que tinham muito amor à espera delas. Tudo de bom <3