Hoje fazem anos as nossas outras Marias. Chamo-lhes nossas porque o são um pouco também. A vida quis que tivessem entrado na nossa vida e estamos muito gratos por isso. 
Faz hoje três anos que estávamos na unidade de cuidados intensivos neonatais com a Matilde ao colo (método do canguru) e o André com a Maria e chegaram duas incubadoras mais aquele mega aparato de quando nasce um prematuro… muitos médicos, enfermeiros, auxiliares, apitos e mais apitos, fios,  ventiladores, medicação… é uma agitação inexplicável e uma ansiedade que nos fez lembrar as nossas meninas quando nasceram. Ao assistirmos pensávamos nos pais, como será que estava a mãe? E o pai, será que estava la fora sozinho como o André esteve? 
Quando tudo acalmou chamaram o pai. Já passaram 3 anos, mas nunca me esquecerei do brilho do olhar dele a entrar na unidade, de esfregar as mãos com um misto de ansiedade e medo talvez e lá foi ele ver as suas princesas. Acreditem que ver bebés de 600 gr é um pouco assustador para quem idealiza um bebé de termo. O que mais nos marcou neste momento, foi quando este pai saiu de perto das suas meninas e nós sorrimos (tentando lhe dizer que estamos a passar pelo mesmo e vamos estar ali para o que ele precisar) ele deu-nos um sorriso e disse “São as meninas mais lindas do mundo”. E ficámos com estas palavras. 
Passaram muitas emoções pela nossa cabeça mas passou também um sentimento de amor por aquelas meninas, aquelas meninas que queríamos muito que lutassem e sobrevivessem, para mais tarde as podermos juntar e contar por tudo o que tínhamos passado juntos. A verdade é que já as juntámos muitas vezes e é uma emoção sempre que estamos todos juntos. 
É muito importante acreditar e amar estes bebés quer tendo eles 600gr, uma doença ou uma deficiência. Sei o quanto nos custa e custou não termos o parto que gostaríamos ou os bebés como idealizamos mas o amor é igual. 
Ficámos muito amigos destes pais, e de outros que passaram pela mesma situação que nós. Serão sempre os únicos que verdadeiramente nos entendem, tanto naquilo que passámos no internamento, como depois por tudo o resto que temos passado já em casa. Pelo menos é o que nós sentimos. 
Para todos os pais que amam os filhos mesmo não tendo sido como os tínhamos idealizado. 
Parabéns Marias e Pais das Marias pelos 3 anos de vida, de luta, de amizade e de tanto e tanto amor. 
Ilustração feita pela Martisses 

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